sexta-feira, abril 29, 2005

Será o ÁTOMO Fundamental?

Uma pergunta que nos persegue geralmente desde crianças é

..................De que é feito o mundo que nos rodeia?..................

Desde cedo as pessoas compreenderam que todas as coisas tendem a ter uma certa estrutura e distribuição no espaço que nos envolve. Ou seja, compreenderam que a matéria de que é feito o mundo é composta de pequenos blocos fundamentais. É claro que a palavra fundamental ganha aqui um sentido preciso: significa que é uma partícula simples e sem estrutura, isto é, que não há nada mais pequeno do que ela.

Por volta de 1900 pensava-se que os átomos eram essas partículas fundamentais, pequenas bolas permeáveis compostas por um fluido carregado positivamente onde se mantinham mais ou menos estáticas pequenas partículas carregadas negativamente: este modelo ficou conhecido pelo caricato nome de Modelo do Pudim de Passas.

Contudo rapidamente se percebeu que os átomos podiam ser agrupados de acordo com um conjunto de características especiais que exibiam (propriedades químicas) e que alguns partilhavam entre si - daqui surgiu a Tabela Periódica dos Elementos, proposta por Mendeleyev em 1869. Isto sugeria que o átomo era feito de partículas mais simples e que eram as diferentes combinações dessas partículas que lhe conferiam propriedades químicas distintas. Experiências laboratoriais usando sondas de partículas apontavam também para a existência de um pequeno núcleo, denso e carregado positivamente, e de uma núvem de electrões negativos (e-). Para uma melhor ideia da experiência de Rutherford, que permitiu descobrir estas características do átomo, façam click aqui.

A ideia de uma estrutura para o átomo começava a formar-se e o seu nome, ainda hoje usado, constitui mais um histórico comodismo - dado que o termo "átomo" provém do grego atomon que significa, simplesmente, "indivisível", algo que agora sabemos que ele não é.

domingo, abril 10, 2005

Poema para Galileo




Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileo! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios.)
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.

Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria…
Eu sei… eu sei…
As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileo Galilei!

Olha. Sabes? Lá em Florença
está guardado um dedo da tua mão direita num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.

Eu queria agradecer-te, Galileo,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar — que disparate, Galileo!
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação —
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.

Pois não é evidente, Galileo?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu.

Estava agora a lembrar-me, Galileo,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo
a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade
e da tua condição,
se tivesse tornado num perigo
para a Humanidade
e para a Civilização.
Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscavas os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.

Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas — parece-me que estou a vê-las —,
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia universal.
E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma,
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e descrevias
para eterna perdição da tua alma.
Ai Galileo!
Mal sabem os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,
andavam a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.
Tu é que sabias, Galileo Galilei.

Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.
Por isso estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa do quadrado dos tempos.

António Gedeão